domingo, 30 de agosto de 2009

Um ato de liberdade


Sem rodeios: assistam os filmes "O menino do pijama listrado" e "Um ato de liberdade". Como um cinéfilo meia boca, tenho me surpreendido como ainda é possível rodar bons filmes sobre a 2ª Guerra Mundial, mesmo que centenas já tenham abordado a história de diversos "fronts" desse que foi o maior confronto bélico da história. Diante das incomparáveis consequências de todas as nefastas circunstâncias do segundo enfrentamento mundial, que alteraram substancialmente o cenário sócio-político-econômico do globo, desde seu início até hoje, na verdade será difícil se esgotar as possibilidades de visões distintas que se apresentam acerca dessa história.

A meu ver, o mais interessante é que, depois do fim da Guerra Fria, histórias mais preocupadas em contar com a maior fidelidade possível relatos verídicos do que enaltecer a vitória dos aliados têm surgido. "O Pianista", "Operação Valkíria", "Cartas de Iwo Jima" e os filmes citados, além de muitos outros, fazem parte de um grupo de películas que, embora não logrem alcançar uma (inviável) imparcialidade, conseguem deixar o mérito do confronto de lado, mostrando que nem todos os soldados que combateram no eixo eram seres humanos execráveis, monstros que intentavam dominar o mundo a qualquer custo, e que nem todos que lutaram junto aos aliados estavam imbuídos de um espírito humanista heroico e libertador. Não se trata de obras primas, mas sim de filmes realmente muito bons, aos quais vale a pena assistir, mormente se se consegue deixar de lado impressões prévias sobre a história que nos é (insuficientemente) ensinada na escola, aqui no Brasil.

-A propósito, a Superinteressante - revista nem sempre interessante, reconheço - deste mês traz matéria que faz jus a seu nome, comentando a visão de novos historiadores sobre a 2ª Guerra Mundial. Vale conferir.

-Fora, agosto! Bons ventos prometem um setembro bem melhor.

sábado, 29 de agosto de 2009

Mudança de ideias?

Hoje deparei-me com meu trabalho de conclusão de curso. É datado de dezembro de 2005, e seu título é "O Direito Social na perspectiva da Moral Kantiana". Eis seu resumo:

"O presente estudo visa formular uma conexão entre o direito social baseado, principalmente, nas idéias do pensador russo-francês Georges Gurvitch com o sistema moral do filósofo alemão Immanuel Kant. Com base na atual crise do modelo juspositivista almeja-se a formulação e adequação do direito criado pelos grupos sociais historicamente excluídos do reconhecimento e tutela estatais a partir dos valores morais contextualizados e defendidos por Kant ao atual contexto jurídico e político do início do século XXI. Esta monografia acadêmica procura encontrar, na perspectiva da moral kantiana, a possibilidade de aplicação e real condição de efetivação do direito social comunitário".

Sorri. Trata-se de um trabalho em que busquei fundamentos teóricos para criticar o direito positivo, isto é, o direito baseado nas normas escritas, a grosso modo. Pensava, à época, que tudo funcionava errado, e não entendia completamente por que o sistema era daquele modo. Hoje, sou menos ingênuo, digamos assim. Sei que o sistema funciona em parte. O aparato estatal, modo geral, oprime com mais veemência aqueles que contra ele não podem se in$urgir com a mesma veemência, enquanto ataca de forma mais branda e garante com mais prontidão sua proteção àqueles que o mantém. Sim, os Donos do Poder ainda estão aí. Não como outrora, mas ainda fazem das suas em meio aos escudos que deveriam proteger a todos, mas que em meio à batalha do cotidiano são desviados em prol do lado numericamente menor, mas cujo eco da voz ressoa tal como uma caixa registradora, em alto e bom som. E a ordem jurídica, como não poderia deixar de ser, não raro, segue no mesmo rumo, por ora tapando seus olhos, por ora fingindo que há ainda vendas sobre olhos bem abertos, que identificam estirpes espúrias e voltadas a seus próprios interesses.

Não sei se minhas ideias mudaram, se ficaram mais claras ou tortuosas, ou se não aceito seu fracasso. Mas ainda louvo a luz sobre a cidade de Köenisberg e sobre tantas outras das quais de onde vêm pessoas dispostas a não apenas não aceitar a ordem das coisas como elas são, mas também a criticá-la construtivamente e, por que não, a mudá-la. Por vezes, murmúrios não são suficientes para se mudar a história: há que se mexer os braços também. Até porque, como disse dia desses o senador parlapatão, é muito difícil ficar pior do que está.

domingo, 23 de agosto de 2009

Pouco tempo para muitas decepções


Impressionante a quantidade de acontecimentos deste mês de agosto que fizeram jus à nomenclatura popular da época, "mês do desgosto" (ao lado, imagem de uma das maiores tragédias de todos os agostos até hoje: bomba atômica de Nagasaki - 9/8/1945). Acompanhemos alguns fatos lamentáveis que ocorreram em agosto de 2009, em terra brasilis e, mais especificamente, na bela terra de seus garrões:

- O PT, que há muito já negava o que um dia representou no cenário político nacional, cobriu de vez a própria cova da ética que pregava na gestão da coisa pública, apoiando o arquivamento de investigações do Conselho de Ética do Senado Federal sobre condutas ilícitas de José Sarney, tudo em prol do apoio do PMDB nas eleições de 2010, além de perder Marina Silva, uma das pessoas realmente sérias e comprometidas com seu ideal político que ali ainda se encontravam;
- O Ministério Público Federal, colocando o dedo na ferida, interpôs ação de improbidade administrativa em face da governadora do RS, Yeda Crusius, e mais 8, entre deputados estaduais, um deputado federal e o presidente do TCE-RS. As escutas revelaram um esquema podre de corrupção, indicando, em princípio, que a governadora e seus "colaboradores" recebiam altos valores mensais de empresa fraudadora do DETRAN-RS;

- A Brigada Militar, quando do cumprimento de mandado de reintegração de posse de fazenda em São Gabriel-RS, matou um militante do MST que estava ocupando o local com um tiro de espingarda calibre 12, pelas costas. Por óbvio, a ação era desnecessária, pois os policiais poderiam, perfeitamente, fazer uso de armas não letais, valendo-se de balas de borracha, por exemplo, a fim de evitar tal tragédia;

- O governo federal noticiou a (iminente) volta da CPMF, como sempre sob o manto do resguardo com a saúde;

- Dispararam as mortes pela gripe H1N1;

- o Grêmio continua fazendo uma campanha borocochô (é assim que se escreve?) no Brasileirão;

- O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, é o mais novo governante da América que, em benefício próprio, busca alterar a Constituição do país para poder se reeleger, seguindo FHC, Chavez e companhia;

- As duas maiores emissoras de televisão do país, Globo e Record, degladiaram-se em lamentáveis ataques e contra-ataques, em busca ferrenha e desleal ao topo da audiência;

- O governo federal sinalizou que não aceitará o fim do fator previdenciário, cálculo maquiavélico lançado sobre os benefícios de aposentados do INSS, capaz de tirar, por vezes, mais de 30% da renda devida em face dos valores contribuídos, levando em conta a idade do segurado, tempo de contribuição e expectativa de vida;

- O preço do leite subiu assustadoramente;

- O governo do RS, em que pese tenha colocado no ar o Portal da Transparência, não divulgou o nome dos servidores e seus salários, ao contrário do que outros estados, acertadamente, fizeram.
Lembrando que o mês não acabou... e provavelmente devo ter esquecido de muita coisa. Como diria alguém que não muito admiro, mas cujo talento reconheço, só mesmo estocando comida...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Só mais uns parágrafos do cotidiano

No dia 09 de agosto passei meu primeiro dia dos pais. Não ligo muito para essas datas comemorativas, mas elas sem dúvidas me fazem prestar mais atenção nos meus sentimentos e refletir sobre o significado da comemoração que se propõe. Ser pai foi e é a melhor coisa que fiz e faço na minha vida, e não vislumbro qualquer possibilidade de fazer algo maior e melhor - parecido, talvez ser avô, quem sabe... O que importa é que cada dia com o Felipe é mais especial e surpreendente. Descobri ser capaz de amar mais e mais, de uma forma que eu não sabia ser possível, e sobre a qual realmente me faltam palavras para sequer pensar em descrever. Essa figurinha aí é o maior presente que a vida poderia ter me dado.

Tudo bem, eu ia trocar de assunto, mas não dá. Não sou capaz de escrever, mesmo que brevemente sobre o Felipe e, logo depois, comentar assuntos cotidianos que me frustam, como os escândalos do governo Yeda no Rio Grande do Sul, as armações para barrar investigações sobre atos do Sarney no Senado, a campanha do Grêmio no Brasileirão, as ameaças de Guerra do Chavez, a gripe A H1N1, de alcunha Suína, e a complexa rede de vida e busca de sentido de vida dos seres bípedes andantes que somos. Isso fica pra depois, até porque, se os Maias estiverem errados, e provavelmente estão, 2012 ainda não será o fim. Pelo menos espero - muito mais pelo Felipe do que por mim.

Então, vá lá. Só mais um pouco do Felipe. Ou de mim. Ou de nós dois. Afinal, só há pai com filho, e vice-versa. Corpos parecidos, comportamentos herdados, mas seres completamente diferentes. Ou nem tanto. Só o tempo vai dizer. Espero que, de mim, ele herde muito mais virtudes do que defeitos. Que seja mais corajoso, menos tímido, mais seguro, mais auto-confiante, mais inteligente, mais ligado a seus pais e mais tolerante com sua família e suas vicissitudes, mais altivo, menos ingênuo, mais justo, menos teimoso, mais amoroso, mais talentoso, menos grosseiro, mais equilibrado, mais humano e fraterno. Entre tantas e tantas outras coisas. Só o tempo, e o que se faz no meio dele. Por enquanto, com quase 7 meses, como vocês podem ver, ele é lindo, querido e esperto demais.


Resumindo: desejo que meu filho Felipe seja muito melhor do que eu. Tudo que eu puder fazer para tornar isso possível, farei. Por enquanto, vou criando ele tão bem quanto posso. E a foto abaixo, que tirei junto a um velho quadro, quando ele tinha 3 meses, não deixa mentir: muita coisa de mim ele já tem.

À esquerda, Marcus, dezembro de 1982. À direita, Felipe, abril de 2009.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A volta dos que não foram e a ida dos que não voltam: ideias que morrem


Apague-se julho. Muito trabalho, algumas frustrações, outras tantas alegrias, batizado do Felipe, tempo, tempo, tempo. Chega agosto, e há tanto para escrever que acabo procrastinando. Retardo novas escritas, há muitas ideias, mas como escolher?, fico na dúvida, mas não posso deixar esse espaço morrer. Morrer... morte física? Não, assunto pesado, e não se tem muitas notícias sobre os que tenham porventura dela voltado para enriquecer um debate. Morte de ideias... sim, esse assunto sim, porque a ideia que morre deixa viva (ainda) a mente na qual nasceu, cresceu, deixou de se reproduzir e morreu. O defunto é o próprio viúvo da ideia. As ideias que morrem. Está aí o tema.


Problema número 1 resolvido, passo ao segundo: não posso me estender demais. É que sou um grande assassino de ideias. Penso o dia inteiro sobre um lote imenso de assuntos e tenho sacadas a meu ver tão interessantes que por si sós me deixam felizes. Porém, deixo as ideias fugirem por entre meus dedos, voarem longe, sumirem. Quando delas lembro, não as escrevo, quando as registro, acabo não as executando. Em regra delas não recordo. Enfim, sobre ideias que morrem, sou uma sumidade, dentro do possível de minhas vinte e poucas primaveras. Então, só me resta pincelar um ponto ou outro. Noutra oportunidade escreverei mais (isso se essa não for mais uma ideia natimorta). Como disse Saramago sobre o limite de 140 caracteres do Twitter (desculpem-me os adeptos, mas sou contra a simplificação das complexas coisas ligadas à natureza humana: para mim quase nada se diz com tão poucas palavras), nesse passo chegaremos à comunicação por meio de urros.


Mas vá lá. O problema maior do ritmo da vida atual, para mim, é a falta de espaço do ócio. No ócio está a criatividade, no ócio está a contemplação, a filosofia precisa de uma dose de ócio. Com os meios de tecnologia disponíveis, somos instados a cada vez mais fazer coisas. Desdenhamos aquele tempo de respirar fundo e olhar o tempo passar: o que interessa é aproveitar os minutos, fazer duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo, levar o notebook para a frente da TV, durante o jantar, falar no celular no trânsito, estar informado via internet pelo celular durante o happy hour. Como maturar ideias no meio desse frenesi todo? Faz-se muito, e não se faz nada. As peças se encaixam no sistema e vão, sem tempo para se pensar sobre o tipo de quebra-cabeça que está se formando.


Nisso tudo, aí estou eu. Mato ideias que tenho pela manhã por ter que me ater ao trânsito, ao trabalho, às contas, às responsabilidades. Mato ideias que tenho à noite por ter que dormir logo, porque amanhã é outro dia e devo acordar logo e tocar a vida, acompanhar as notícias, estar ligado no mundo, cuidar da alimentação, ômega 3 é importante, não pode faltar vitamina C, lavar as mãos para deixar a gripe longe. Mas as mato, fundamentalmente, porque fui incorporando, pouco a pouco, o ceticismo das pessoas que me cercam - reconheço que a falta de espírito crítico e de indignação com o status quo do mundo que vejo aos quilos dia a dia tem tolhido minha capacidade de sonhar. Fico procurando um pouco do melhor de mim que já tive no que venho me tornando.


Para onde vão as ideias que morrem? Não sei. Sei que já me empolguei com minhas conclusões idealísticas a tal ponto que só de pensar em topar com alguma ideia perdida por aí fico curiosamente feliz. Tomara que eu as veja numa dessas esquinas do meu pensamento, às vezes tortuosas, outras vezes floridas.


As ideias, boas ou más, não deveriam morrer jamais. Que morramos nós, mas que as ideias sejam imortais. Só elas o podem.


Uma ideia não morrerá: agosto será movimentado por aqui. Se há alguém aí, pode me cobrar.