quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A volta dos que não foram e a ida dos que não voltam: ideias que morrem


Apague-se julho. Muito trabalho, algumas frustrações, outras tantas alegrias, batizado do Felipe, tempo, tempo, tempo. Chega agosto, e há tanto para escrever que acabo procrastinando. Retardo novas escritas, há muitas ideias, mas como escolher?, fico na dúvida, mas não posso deixar esse espaço morrer. Morrer... morte física? Não, assunto pesado, e não se tem muitas notícias sobre os que tenham porventura dela voltado para enriquecer um debate. Morte de ideias... sim, esse assunto sim, porque a ideia que morre deixa viva (ainda) a mente na qual nasceu, cresceu, deixou de se reproduzir e morreu. O defunto é o próprio viúvo da ideia. As ideias que morrem. Está aí o tema.


Problema número 1 resolvido, passo ao segundo: não posso me estender demais. É que sou um grande assassino de ideias. Penso o dia inteiro sobre um lote imenso de assuntos e tenho sacadas a meu ver tão interessantes que por si sós me deixam felizes. Porém, deixo as ideias fugirem por entre meus dedos, voarem longe, sumirem. Quando delas lembro, não as escrevo, quando as registro, acabo não as executando. Em regra delas não recordo. Enfim, sobre ideias que morrem, sou uma sumidade, dentro do possível de minhas vinte e poucas primaveras. Então, só me resta pincelar um ponto ou outro. Noutra oportunidade escreverei mais (isso se essa não for mais uma ideia natimorta). Como disse Saramago sobre o limite de 140 caracteres do Twitter (desculpem-me os adeptos, mas sou contra a simplificação das complexas coisas ligadas à natureza humana: para mim quase nada se diz com tão poucas palavras), nesse passo chegaremos à comunicação por meio de urros.


Mas vá lá. O problema maior do ritmo da vida atual, para mim, é a falta de espaço do ócio. No ócio está a criatividade, no ócio está a contemplação, a filosofia precisa de uma dose de ócio. Com os meios de tecnologia disponíveis, somos instados a cada vez mais fazer coisas. Desdenhamos aquele tempo de respirar fundo e olhar o tempo passar: o que interessa é aproveitar os minutos, fazer duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo, levar o notebook para a frente da TV, durante o jantar, falar no celular no trânsito, estar informado via internet pelo celular durante o happy hour. Como maturar ideias no meio desse frenesi todo? Faz-se muito, e não se faz nada. As peças se encaixam no sistema e vão, sem tempo para se pensar sobre o tipo de quebra-cabeça que está se formando.


Nisso tudo, aí estou eu. Mato ideias que tenho pela manhã por ter que me ater ao trânsito, ao trabalho, às contas, às responsabilidades. Mato ideias que tenho à noite por ter que dormir logo, porque amanhã é outro dia e devo acordar logo e tocar a vida, acompanhar as notícias, estar ligado no mundo, cuidar da alimentação, ômega 3 é importante, não pode faltar vitamina C, lavar as mãos para deixar a gripe longe. Mas as mato, fundamentalmente, porque fui incorporando, pouco a pouco, o ceticismo das pessoas que me cercam - reconheço que a falta de espírito crítico e de indignação com o status quo do mundo que vejo aos quilos dia a dia tem tolhido minha capacidade de sonhar. Fico procurando um pouco do melhor de mim que já tive no que venho me tornando.


Para onde vão as ideias que morrem? Não sei. Sei que já me empolguei com minhas conclusões idealísticas a tal ponto que só de pensar em topar com alguma ideia perdida por aí fico curiosamente feliz. Tomara que eu as veja numa dessas esquinas do meu pensamento, às vezes tortuosas, outras vezes floridas.


As ideias, boas ou más, não deveriam morrer jamais. Que morramos nós, mas que as ideias sejam imortais. Só elas o podem.


Uma ideia não morrerá: agosto será movimentado por aqui. Se há alguém aí, pode me cobrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário