quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pequenas considerações

O público e o privado

Em meio a notícias cotidianas sobre os abusos que autoridades cometem quando investidas em cargos públicos, especialmente os que envolvem ganhos financeiros ilegais, a descrença na honestidade daqueles que se enveredam na carreira pública, seja como agentes políticos, seja como servidores públicos, aumenta consideravelmente, chegando à beira da certeza de que, se nessa esfera homens íntegros há, são tão raros que suas ideias acabam sepultadas pela busca impávida de vantagens pessoais da maioria.

Não defendo juízo contrário, e depois do escândalo das passagens no Congresso Nacional, penso que o fio de esperança que se podia ter na proba gestão da coisa pública pelos políticos atuais foi rompido. Por outro lado, entendo que não basta somente o voto para modificar essa realidade, e tampouco fará relevante diferença mudanças pontuais nas regras eleitorais. A meu ver, há que se ir além.

Como consabido, os problemas vêm de longe. A conturbada história brasileira caracteriza-se em demasia pelo voluntarismo político. Os governantes da Nação são lembrados muito mais por suas particularidades do que pelos projetos de governo que implementaram. O Brasil sempre dependeu mais de homens do que de ideias. E homens, quando chegam ao poder e não possuem regras costumeiras e modelos políticos sólidos a seguir, confundem-se com as prerrogativas do cargo que ocupam, esquecendo-se que estão no exercício de uma função pública, e não sendo servidos por ela.

É imprescindível que se eduque as gerações futuras para que compreendam, desde cedo, as diferenças e nuanças que caracterizam a esfera pública e a privada. Hoje, formam-se universitários aos borbotões sem essa noção. Esse quadro tende a agravar-se consideravelmente, dada a facilidade de comunicação atual, que, paradoxalmente, apesar de encurtar distâncias, faz com que o homem se feche mais em si mesmo, como se uma mônada fosse, e despreze o que não se lhe apresente prontamente aos olhos: a coisa pública, por exemplo. Faz-se necessária uma (árdua) mudança de mentalidade e o repasse de ideais comunitários e éticos, seja no lar, na escola e em outros âmbitos da sociedade civil. Apenas assim poderá haver uma compreensão mínima de que não se pode de forma alguma estender certas prerrogativas da vida pública para a vida privada, bem como que aqueles que, de uma forma ou de outra, representam o povo, possuem a inquestionável obrigação de velar pelos interesses da coletividade muito antes dos seus, e de saber que o cargo que ocupam é maior do que eles mesmos.

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