sábado, 20 de junho de 2009

Doação de sangue


Ontem, 19/06, resolvi doar sangue. Não o fazia há tempos, mas acredito tratar-se de um gesto que ao fim e ao cabo se mostra útil, pois alguém pode precisar para lutar por sua vida - aquele argumento que quase todos nós conhecemos. Porém, o que me leva a escrever é o caminho que tive que percorrer até a doação.


Minha cidade, São Leopoldo, tem cerca de 210 mil habitantes e um hospital municipal (Hospital Centenário - http://www.hospitalcentenario.com.br/). Não vou falar na presteza dos servidores para atender os precisados e os que os acompanham, que é tenebrosa, já senti na pele, e nem da qualidade de seus serviços médicos - apesar de já ter ouvido histórias horríveis a esse respeito. Atenho-me somente a um fato: não há banco de sangue no hospital. Mas engana-se quem pensa que nunca houve: havia, e inclusive já doei sangue lá (a última vez em 2005, acredito). Mas, tratando-se de atividade tão importante... por que acabar com ela?


Por trabalhar em outra cidade (Porto Alegre), poucas vezes tive chance de procurar o Centenário para doar sangue. Meu porte físico avantajado proporciona-me, imagino, considerável quantidade de sangue, fazendo que a doação de 500ml não me acarrete nenhum efeito colateral considerável, razão pela qual não havia, até então, feito uso da doação para cabular o trabalho. Hoje, para não retornar de férias numa sexta-feira, uni o útil ao agradável e busquei o Centenário. Lá, informaram-me que o banco de sangue era coisa do passado e que, se eu quisesse, que procurasse o Hospital Regina, na vizinha cidade de Novo Hamburgo. Para lá me dirigi.


Ao ser (muito bem) atendido, soube que o banco de sangue do Hospital Regina encaminha sangue para o Hospital Centenário, além de atender os outros dois hospitais de Novo Hamburgo e o da cidade vizinha de Campo Bom. Por insistência minha soube, também, que o motivo para o banco de sangue do Centenário não funcionar é, pasmem, a ausência de alvará.


Sim, vocês leram bem. Um hospital municipal com um banco de sangue sem alvará. Acredito que vocês não se surpreendem tanto porque, como eu, são brasileiros e estão acostumados com a nossa capacidade de criação de situações absurdas e inimagináveis. Por aqui, a vida supera, e muito, a arte. Contudo, uma temeridade não deixa de ser uma temeridade por temeridades serem corriqueiras. Até a própria atendente, que primeiro me deu essa infeliz informação (posteriormente confirmada) e grafou minha profissão de assessor jurídico como "acessor", bradou, balançando negativamente a cabeça: "como é que pode, né, sem alvará não dá!"


Não importa que o licenciamento burocrático não se limite a alvarás, não importa se a notícia é velha. Importa, isso sim, que um importante serviço não está sendo prestado, importa que o descaso com serviços públicos essenciais no nosso país, como a saúde, é uma vergonha. Por ora, só me resta torcer para que ninguém (inclusive eu) precise de uma tranfusão de sangue urgência em São Leopoldo, como em outras tantas cidades cujos hospitais não possuem estoque suficiente.


E, enquanto isso, seres onipotentes, do alto de nuvens coloridas, discutem tenazmente sobre a soberba contribuição do próprio som de suas vozes para a efetivação de direitos fundamentais no Brasil...


Um comentário:

  1. Mineiro, parabéns pelo Blog.
    Gostei muito da tua escrita.
    E fico feliz por vc poder doar sangue uma vez que pessoas com menos de 50kg não o podem, que é o meu caso.

    Bem, parabéns pelo filhote.
    :)

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