terça-feira, 23 de junho de 2009

A educação e os que dela precisam

Hoje falei bastante sobre educação. Isso não chega a ser uma novidade, até porque qualquer conversa séria em que sejam analisados ou mencionados en passant os problemas morais, sociais, jurídicos, políticos, econômicos e até esportivos nacionais - como o jogador da seleção brasileira que, pasmem, nunca tinha visto nenhuma imagem da histórica vitória canarinho sobre a Itália na final da Copa de 70 -, invariavelmente descamba para a fórmula mágica: "a solução está na educação". Ou seja, a educação virou um lugar-comum, embora se trate do mais importante lugar-comum em que se possa chegar. Porém, causa-me arrepios a chegada a esse ponto de convergência, quando as cabeças param de balançar e a discussão ora acalourada por instantes cessa (prefiro muito antes o antagonismo extremo, muito mais fecundo e, porque não, divertido, quando usado com moderação).

Seja tratando da efetivação de direitos fundamentais, seja fazendo referências às mazelas do Senado Federal, seja opinando sobre os rumos que deveriam ser oferecidos aos jovens de hoje e sempre, a educação é aquele norte inalcançável, pouco palpável e extremamente abstrato, mas que é trazido para o bojo das discussões como se fosse uma realidade em plena construção ou uma possibilidade imediata. Não raro, esquecemos que o conceito de educação é tão amplo quanto a nossa estrutura social, e engloba não só a formação escolar, cidadã e acadêmica, mas todo e qualquer tipo de aprendizagem que pode chegar a nós por outrem ou (porque não) por nossa própria reflexão, em qualquer etapa da vida - seja ele "bom" ou "mau".


Apenas começando a pincelar ideias que podem (e devem) ser aprofundadas por mim neste humilde espaço e por todos em qualquer atividade - pois a educação é um problema habitual de qualquer um que conviva em sociedade -, vão aí algumas sugestões (sem nenhuma pretensão de exaustividade, embora propositalmente afastadas das quimeras teóricas) que considero adequadas e inadequadas, quando se reflete sobre educação.


- a base de educação escolar não pode ser desprezada. Começamos nosso aprendizado ainda bebês, e é nas primeiras fases da vida em que desenvolvemos a estrutura de nossas capacidades intelectivas. O ensino fundamental e médio, respectivamente, devem ser tomados como prioridades absolutas do Estado e o controle da qualidade do conhecimento ofertado deve ser rígido - ao contrário do que ocorre hoje, com a quase ausência de controle de ensino nos primeiros anos de aprendizado e a valorização não indevida, mas isolada e estruturalmente estigmatizadora do ensino superior como o meio salvador de nosso subdesenvolvimento.


- nenhum projeto de educação funciona a curto prazo. Desculpem-me os que pensam ao contrário, mas entendo que mudanças significativas não podem ser planejadas com escopo de efetividade para períodos menores que 10 anos. Essas modificações são lentas, mas se iniciadas com profundidade, seriedade, estratégia e continuidade podem demonstrar resultados satisfatórios. Isso, porém, se tratadas com a consciência de que a mão que lança a semente não pode almejar colher os frutos.


- Uma melhor distribuição de competências e verbas é imprescindível. A divisão do ensino determinada pela Constituição da República de 1988, que dá, grosso modo, o ensino fundamental para o município, o ensino médio para o estado federado e o ensino superior para união deveria ser fulminada, pois o ente que concentra mais recursos e poderia honrar o princípio da igualdade, estabelecendo programas de ensino de padrão elevado e de amplo alcance à população, possui a competência de custear o fim da cadeia, onde poucos privilegiados (como eu) que tiveram uma base sólida nas etapas anteriores podem disputar e obter o financiamento de seus estudos superiores e formação acadêmica. Podem me crucificar, mas considero que se a União deixar para as entidades privadas o ensino superior, concentrando seus esforços e recursos na (difícil mas não impossível) construção de uma base sólida do ensino fundamental, um primeiro passo rumo a uma divisão mais justa estaria dado.


- Livros, livros e mais livros. Se não pudermos chegar a consenso algum mais, que pelo menos ensinássemos os brasileiros, desde cedo, a ler e a gostar de ler.




2 comentários:

  1. Olá...fico feliz em ver num jovem bacharel a preocupação da leitura...que bom se todos os jovens tivessem acesso a livros. Obras que atraissem a curiosidade, que despertassem a vontade de viajar, sonhar ,encontrar tesouros e fazer amigos!!! que fosse ate uma revistinha infantil e, que ficasse sempre bem acessível ( porque não no banheiro???). Fico feliz em saber que as investidas não foram em vão!!!!te amo meu filho...Ruth

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  2. Concordo plenamente com essas idéias, só não sei se o ensino superior não ficaria oneroso demais para os municípios, enfim, mera questão de análise financeira, pq na minha opinião a UNIÃO tem condições de acumular tudo...

    ... mas o que mais me assombra é que não vejo um discurso semelhante a esse na opinião publica.

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